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Água é Património

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ÍNDICE

Abastecimento PúblicoSéculo XIX: a sensibilização para o problemaSéculo XX: período de viragemConservação, defesa e uso da ÁguaCursos de Água e Lendas
MÃE-D’ÁGUA: Centenário do Abastecimento Público de Guimarães.
Textos António Amaro das Neves, Francisco Costa, António Bento. Guimarães: Vimágua, Empresa de Água e Saneamento de Guimarães e Vizela, [2007]. 256 p.: il; 29 cm. (978-989-20-0658-1)

Fotografias: Eduardo Brito / Paulo Pacheco

Cursos de água em Guimarães

Rios na Cidade

“A vila de Guimarães nasceu envolvida em duas linhas de água que se abraçam, depois de a contornarem. Do lado sul, escorrendo da Serra de Santa Catarina, corre o Rio da Vila que nasce na fonte dos Passais, junto à velha igreja de S. Romão de Mesão Frio. Após percorrer o Campo da Feira, passa pela rua de Couros, de onde toma o nome pelo qual ficou conhecido. Atravessa a Caldeiroa, segue em direcção a Trasgáia e desagua abaixo de S. Lázaro, ao fundo da velha rua D. João I.
Do lado norte do velho burgo, corre um outro regato, o ribeiro dos Castanheiros, antigamente conhecido pelo Rio Herdeiro, que nasce em Azurém, na fonte do Bom Nome, com um caudal que se alargava à medida que ia recebendo as águas de outros arroios e regos que se lhe juntavam. Percorre o lugar do Proposto e o dos Pombais juntando-se ao rio de Couros na zona abaixo de S. Lázaro. A partir da junção destes dois cursos de água, forma-se o rio Celinho, que atravessa a Veiga de Creixomil e se vai juntar ao rio Selho, no lugar do Reboto".

Rios no concelho

  • O território de Guimarães é atravessado pelo Rio Ave que entra nas suas terras em Arosa. Atravessa as freguesias de Gondomar, Santa Maria e São Salvador de Souto, Santa Eufémia de Prazins, Dinim, Santo Estêvão de Briteiros; Barco, Caldelas, Brito, São João de Ponte, Silvares, Ronfe, Gondar, Serzedelo.
  • O Rio de Selho nasce em São Torcato e vai passando de diversas pontes, a da Madre Deus, a de Caneiros, a do Miradouro, a do Soeiro, e se vai esconder no rio Ave, por baixo da ponte de Serves, conservando sempre o mesmo nome.
  • O Rio Vizela corre as margens das freguesias de Gémeos, Moreira de Cónegos e Lordelo.
  • O Rio Febras, um regato que nasce numa fonte da Falperra e desagua no Ave, em S. Cláudio do Barco.
  • O Rio Pequeno, nasce em Vila Cova e corre pelas margens das freguesias de Arosa e Castelões.
  • O Rio Truta, brota de uma fonte, ou charco, em Leitões. Em Joane passa a dominar-se rio Pele, diluindo-se no Ave junto à ponte de Legoncinha.
  • Em Infantas nasce o Rio da Cabra, que leva pouca água, indo morrer em Serzedo.
  • Em Calvos, corre o rio Pombeiro.


Lendas

Para esconjuros é preciso:
Água benta de sete pias;
Água de sete fontes;
Sangue de sete galinhas pretas;
Terra de sete sepulturas.
SARMENTO, Francisco Martins – Antiqua: tradições e contos populares. Guimarães: Sociedade Martins Sarmento, 1998. ISBN: 972-8078-60-9. p. 105-106.

Água de cu lavado
Deve dar-se a beber ao recém-nascido, porque o livra do mau olhado. Serve a água com que se lava o cu da própria criança.
SARMENTO, Francisco Martins – Antiqua: tradições e contos populares. Guimarães: Sociedade Martins Sarmento, 1998. ISBN: 972-8078-60-9. p. 263.

Quando as crianças se lavam
Recém-nascidos, a primeira vez, faz-se-lhe uma cruz com a mesma água e diz-se:
Aguinha a lavar
O Senhor a abençoar
Aguinha a correr
E o menino a crescer.
SARMENTO, Francisco Martins – Antiqua: tradições e contos populares. Guimarães: Sociedade Martins Sarmento, 1998. ISBN: 972-8078-60-9. p. 51.

Talhar o ar
Vai-se a uma Fonte, apara-se-lhe a água nas mãos covas, e, olhando para o Céu, diz-se:
“Ar e Céu e estrelas vejo
Se eu trago ar
Com as minhas mãos o despejo.”
Enquanto isto se diz, vão-se levantando as mãos, até à altura da cabeça e de modo que a água não caia das mãos, e, ditas aquelas palavras, atira-se a água fora, de diante para trás, e por cima da cabeça. A operação há-de ser feita três noites. Igualmente é necessário não entrar pela mesma porta, donde se saiu de casa, nem mesmo vir pela mesma rua – ou, o que vale o mesmo, trilhar a rua duas vezes. A coisa, como se vê, é feita de noite.
SARMENTO, Francisco Martins – Antiqua: tradições e contos populares. Guimarães: Sociedade Martins Sarmento, 1998. ISBN: 972-8078-60-9. p. 67.

Talhar o Bichoco
Bichoco é um incómodo na barriga das crianças que as faz obrar verde(sic).
É preciso água dizimada duma fonte que nunca secasse (condição necessária). Mete-se dentro um ramo de funcho e depois é que se talha o bichoco.
SARMENTO, Francisco Martins – Antiqua: tradições e contos populares. Guimarães: Sociedade Martins Sarmento, 1998. ISBN: 972-8078-60-9. p. 73.

Água da Fonte da Senhora da Luz – Santa Leocádia
É milagrosa para a vista a quem lavar com ela os olhos.
SARMENTO, Francisco Martins – Antiqua: tradições e contos populares. Guimarães: Sociedade Martins Sarmento, 1998. ISBN: 972-8078-60-9. p. 151.

Contra as “dores” da criança recém-nascida
Pegam-se nos “panos” dela e chegando a uma fonte passam-se três vezes por cima da água (sem molhar) repetindo a cada passadela:
Oh! fonte que tens virtude,
Oh! água que de ti sais (sic)
Fazei com que esta criança
De dores não chore mais.
Oh! fonte tu que me ouves
À luz do Sol me jurais (sic)
Fazei etc. (ut supra)
Enche-se um cântaro; dobra-se o pano em três, e trazendo o cântaro em cima do pano dobrado, em casa embrulha-se nele a criança.
SARMENTO, Francisco Martins – Antiqua: tradições e contos populares. Guimarães: Sociedade Martins Sarmento, 1998. ISBN: 972-8078-60-9. p. 155.

Farfalhas
Para curar as farfalhas da língua das crianças vai-se, ao nascer do Sol, a uma fonte que nunca seque com um lenço de três pontas. Molha-se uma delas na água e depois de esfregar a língua da criança com a ponta molhada, diz-se:
És tu a fonte
nascida do monte
de quando Nossa Senhora assubiu a serra
quando se assentou e nasceu uma fonte
com água doce e com água bela
tira o farfalho da boca e da barbela
a esta criança que não pode mamar
para se criar.
És tu a fonte que nunca secas
és tu a fonte nascida do monte.
SARMENTO, Francisco Martins – Antiqua: tradições e contos populares. Guimarães: Sociedade Martins Sarmento, 1998. ISBN: 972-8078-60-9. p. 161.

Acordar a água
A água dorme de noite (já sabido) e não deve beber-se dela sem a acordar. Acorda-se deste modo: enche-se um púcaro da água que se vai beber, e diz-se:
Água da fonte de cristal,
Não durmas, acorda e não me faças mal.
E torna a deitar-se a água dentro do cântaro, repete-se a operação e as palavras três vezes, e só depois disso é que se pode beber sem susto, porque não fará mal.
SARMENTO, Francisco Martins – Antiqua: tradições e contos populares. Guimarães: Sociedade Martins Sarmento, 1998. ISBN: 972-8078-60-9. p. 233.

Água de Guimarães
Há séculos, em ano ignorado, um anónimo cutileiro do lugar do Miradouro, animado pela aventura de tentar fortuna, partiu em manhã brumosa para terras do Brasil. Suas armas para os combates de além-mar, eram apenas as suas mãos honradas de artistas e uma vontade de minhoto para chegar e vencer.
Porque já então corria mundo a fama dos cutileiros de Guimarães, desde logo foi ajustado a um mestre o nosso artificie do Miradouro.
Simplesmente o emigrado obreiro sempre que experimentava a têmpera das suas facas de mato, cutelos e trinchetes; sempre que buscava o fio ao corte das várias peças do seu mister, era certo vê-lo franzir a testa e exclamar com nostálgica tristeza:
- Ai, água de Guimarães! Água de Guimarães!...
Farto o mestre de ouvir-lhe atribuir à água de Guimarães a virtude química de uma boa têmpera, tomou um dia a secreta resolução de mandar vir um barril com água de Guimarães.
(...)
Eis senão quando, aportou a terras de Santa Cruz um barril com água de Guimarães, sendo vasada discretamente na celha das têmperas.
Feito isto, pôs-se o mestre de olho arteiro e orelha guicha, a espreitar o trabalho do seu oficial, naquele minuto em que o nosso cutileiro mirando e remirando a peça sobre os rojões cadentes da forja, lhe pegava com a tenaz, buscando aquele momento em que a coloração do fogo o aconselhava ao mergulho da peça em fabrico na celha da água fria, para assim transmitir ao aço duro o baptismo da têmpera.
Os tons cromáticos e intermédios do amarelo, do vermelho, do cereja, do rosa, do violeta, do azul, apagaram-se. O que, apenas, vencendo a distância, vencendo o tempo, fixando-se na tradição, chegou até nós dessa memorável operação metalúrgica, foi a frase proferida lá no Brasil, pelo cutileiro do Miradouro, no minuto esplêndido em que experimentando a têmpera da nova peça fabricada, atónito e contente, exclamou:
- Ou eu sonho, ou a água de Guimarães está aqui!...
CARVALHO, A.l. de – Os Mesteres de Guimarães. Barcelos: Ministério da Educação Ncional, 1939. p. 143-145.

A água no interior da Penha
“Na crença popular, muitos montes dos nosso país são atravessados por uma tão pujante veia de água, que a planície, sobre que rebentasse, ficaria completamente submergida. Guimarães está a ameaçada por um destes dilúvios locais, se quebrar ou remover um certo penedo, que a bem dizer, laqueia a famosa veia. Vem ela, ninguém sabe donde; mas sabe-se que passa no monte de Santa Quitéria; sobe a Penha, depois de descer por baixo do rio Vizela (há um sítio do Vizela onde se ouve distintamente o sussurro da água subterrânea); vai passar no Monte Espinho (Bom Jesus), onde dá algumas penas de água para as fontes do Santuário, e continua lá para os lados do mar”.
SARMENTO, Francisco Martins – Dispersos. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1933.